"Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do
emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao
lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu
rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas
Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve
míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal;
porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é
a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
A "rebinboca da parafuseta" é a artéria femural de todo o carro. Não se trata de não entender a artéria em si, mas do "pra que ela serve?" Pior do que isso: servindo pra "isso", e tendo "esse problema", porque "isso aconteceu e como eu posso culpar o veículo E o problema por existirem?"
Pois é... No final das contas, todas as profissões possuem suas rebinbocas, suas parafusetas, seus clientes insatisfeitos e seus mecânicos corruptos.
Ou, eventualmente, possuem suas rebinbocas e parafusetas provindas de mecânicos que são corruptos, diante dos olhos incrédulos dos clientes atônitos.
Ainda, é possível que a "rebinboca" seja o eixo cardã e a "parafuseta" seja o distribuidor, isso tudo explicado para o cliente que, pagando a contra gosto, ouviu "blablabla da rebinboca da parafuseta blablabla 250 reais"
segunda-feira, abril 16, 2012
Sorria, meu bem... Sorria!
Na maioria das fotos
em que estou presente, apareço fazendo caras e bocas. Na verdade nem
tantas “caras e bocas” assim, visto que a minha versatilidade
para caretas é bem pequena. De qualquer maneira, é mais fácil que
eu esteja ou contorcendo a cara, ou sério, ou fugindo da câmera, do
que sorrindo. Mas e qual é o porquê disso? E essa pergunta já me
foi endereçada, ao que, se me tivesse brotado no momento, a presença de
espírito necessária para fazê-lo, responderia assim: “vai tomar
no cu, não te interessa, a cara é minha e faço dela o que bem
entender, seu merda!”
Entretanto, a resposta
mais sincera seria a seguinte: eu acredito que o sorriso, quando
verdadeiro e representando certo “estado de espírito”, deva ser
espontâneo. Eu não gosto de tirar fotos e não me sinto à vontade
naquele breve intervalo de tempo entre o posicionar-se e o esperar
pelo click do fotógrafo. Quando estou nesta situação de
desagradável desconforto, é passível de entendimento que minha
espontaneidade demonstrasse antes uma expressão de puro
descontentamento do que um sorriso sincero. Porém, ao mesmo tempo,
se me dispus a posar ao lado de outrem, “fi-lo porque qui-lo” e
transparecer uma expressão de ódio talvez depusesse contrariamente
ao apreço que sinto por quem está na imagem comigo.
Não sei se existe um
estudo histórico ou etimológico da careta, mas a mim parece ser
muito adequado, em diversos momentos de constrangimento,
manifestar-se através de caretas com o fim de fazer com que os
outros riam (e com isso “quebrar o gelo” de determinada situação)
ou, simplesmente, demonstrar uma expressão facial absolutamente
artificial, conquanto aconchegante e descontraída. Claro que a
careta pode ser utilizada como afronta ou até mesmo para despertar o
medo em alguém, além do uso muito corrente de chamar de “careta”
aquele que não consome drogas de nenhum tipo, mas para tais casos a
minha explicação aqui não se enquadra já que esses não seriam,
necessariamente, momentos de constrangimento.
Portanto, para
finalizar: a careta é uma ferramenta muito mais eficiente do que o
sorriso amarelo, visto que ela é uma alteração da expressão
facial (tais como o sorriso ou o emburramento os são) mas é uma
maneira de compatibilizar a minha absoluta alegria em estar ao lado
da(s) pessoa(s) que estão na foto, ainda que eu esteja numa espiral desnorteada de impostura atabalhoada, causada pela minha evidente incompatibilidade mundana de posicionar-me frente às lentes.
- Sente isso?
- O quê? Sinto o quê?
- Nada... Pensei ter ouvido um ruído estranho aqui...
- Ah! Isso. Eu ouvi também.
- O quê?
- Um ruído estranho.
- O estetoscópio tá na minha mão. Tu não escutaste nada. De que ruído falas?
- Ruído... Acho que é da construção daí da frente.
- Pois é... Obras da copa. Mas me preocupo com o que escutei dentro de ti.
- Gases. O último doutor me falou que eram gases. Eu disse que tinha dores no peito, ele jurou que eram reflexos do meu trato intestinal...
- Hum... Faz sentido.
- Faz, faz... Só se for pro senhor! Porque meu cu, a vazão de qualquer flatulência, está entre as nádegas. O que tenho nessa região é, no máximo, puxando pra baixo, um umbigo.
- O umbigo não é necessariamente um orifício...
- Bem como as obras da copa não fazem barulho. Porque elas não tem acontecido.
- E o que é o barulho que escutamos, então?
- Acho que, talvez, as tripas da cidade tenham-se rompido novamente. Sabe como é: gases...
Os cupins alimentam-se do meu armário como se minha casa fosse um restaurante tipo buffet livre. E "livre" no sentido de que podem repetir a refeição quantas vezes quiserem, além de que podem fazê-lo sem pagar por isso. Esse drama ocorre todo ano, assim que o verão começa a se manifestar. Tenho a nítida impressão de que a detetização é feita com vinagrete e algumas especiarias, porque nunca vi cupim gostar tanto de um armário já quase totalmente descarnado - já que os cupins do ano anterior, e dos anteriores ao anterior, fizeram banquetes portentosos. Lembro-me duma oportunidade dessas, na festinha dos cupins, em que, inclusive, acabei por me apaixonar por uma cupinha. Infelizmente, não deu certo. Não que fosse um caso de verão, apenas, mas porque ela foi fazer uma boquinha na casa do vizinho e parece que lá, o veneno funciona...
Enfim, essas coisas me deixam meio triste, sabe? O verão, os cupins, um amor desfeito porque na casa do vizinho o veneno aplicado nos móveis é de verdade. Mas, além disso, me incomoda bastante o fato de que a empresa que fez a aplicação do veneno ter cobrado o olho da cara (e sabe-se lá mais que outro olho), ter "garantido" a eficácia do tratamento na madeira e que, quando vamos atrás dos sujeitos cobrando explicações do comportamento equivocado dos insetos - veja que o veneno está funcionando, são esses malditos mascadores de pinho que, de fanfarrões, se fazem de desentendidos e teimam em não morrer -, eles eximem-se de qualquer responsabilidade.