~~~~~ Filosofias Salgadas (Morto) | Oceano Pensante (Renatito) ~~~~~


quarta-feira, setembro 20, 2017

"Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Brás Cubas, do Machadão YAY

Sóóóóóóó...




quarta-feira, outubro 08, 2014

A "rebinboca da parafuseta" é a artéria femural de todo o carro. Não se trata de não entender a artéria em si, mas do "pra que ela serve?" Pior do que isso: servindo pra "isso", e tendo "esse problema", porque "isso aconteceu e como eu posso culpar o veículo E o problema por existirem?"

Pois é... No final das contas, todas as profissões possuem suas rebinbocas, suas parafusetas, seus clientes insatisfeitos e seus mecânicos corruptos.

Ou, eventualmente, possuem suas rebinbocas e parafusetas provindas de mecânicos que são corruptos, diante dos olhos incrédulos dos clientes atônitos.

Ainda, é possível que a "rebinboca" seja o eixo cardã e a "parafuseta" seja o distribuidor, isso tudo explicado para o cliente que, pagando a contra gosto, ouviu "blablabla da rebinboca da parafuseta blablabla 250 reais"

É uma roubalheira...




segunda-feira, abril 16, 2012
Sorria, meu bem... Sorria!


Na maioria das fotos em que estou presente, apareço fazendo caras e bocas. Na verdade nem tantas “caras e bocas” assim, visto que a minha versatilidade para caretas é bem pequena. De qualquer maneira, é mais fácil que eu esteja ou contorcendo a cara, ou sério, ou fugindo da câmera, do que sorrindo. Mas e qual é o porquê disso? E essa pergunta já me foi endereçada, ao que, se me tivesse brotado no momento, a presença de espírito necessária para fazê-lo, responderia assim: “vai tomar no cu, não te interessa, a cara é minha e faço dela o que bem entender, seu merda!”

Entretanto, a resposta mais sincera seria a seguinte: eu acredito que o sorriso, quando verdadeiro e representando certo “estado de espírito”, deva ser espontâneo. Eu não gosto de tirar fotos e não me sinto à vontade naquele breve intervalo de tempo entre o posicionar-se e o esperar pelo click do fotógrafo. Quando estou nesta situação de desagradável desconforto, é passível de entendimento que minha espontaneidade demonstrasse antes uma expressão de puro descontentamento do que um sorriso sincero. Porém, ao mesmo tempo, se me dispus a posar ao lado de outrem, “fi-lo porque qui-lo” e transparecer uma expressão de ódio talvez depusesse contrariamente ao apreço que sinto por quem está na imagem comigo.

Não sei se existe um estudo histórico ou etimológico da careta, mas a mim parece ser muito adequado, em diversos momentos de constrangimento, manifestar-se através de caretas com o fim de fazer com que os outros riam (e com isso “quebrar o gelo” de determinada situação) ou, simplesmente, demonstrar uma expressão facial absolutamente artificial, conquanto aconchegante e descontraída. Claro que a careta pode ser utilizada como afronta ou até mesmo para despertar o medo em alguém, além do uso muito corrente de chamar de “careta” aquele que não consome drogas de nenhum tipo, mas para tais casos a minha explicação aqui não se enquadra já que esses não seriam, necessariamente, momentos de constrangimento.

Portanto, para finalizar: a careta é uma ferramenta muito mais eficiente do que o sorriso amarelo, visto que ela é uma alteração da expressão facial (tais como o sorriso ou o emburramento os são) mas é uma maneira de compatibilizar a minha absoluta alegria em estar ao lado da(s) pessoa(s) que estão na foto, ainda que eu esteja numa espiral desnorteada de impostura atabalhoada, causada pela minha evidente incompatibilidade mundana de posicionar-me frente às lentes.




quinta-feira, fevereiro 16, 2012

- Sente isso?
- O quê? Sinto o quê?
- Nada... Pensei ter ouvido um ruído estranho aqui...
- Ah! Isso. Eu ouvi também.
- O quê?
- Um ruído estranho.
- O estetoscópio tá na minha mão. Tu não escutaste nada. De que ruído falas?
- Ruído... Acho que é da construção daí da frente.
- Pois é... Obras da copa. Mas me preocupo com o que escutei dentro de ti.
- Gases. O último doutor me falou que eram gases. Eu disse que tinha dores no peito, ele jurou que eram reflexos do meu trato intestinal...
- Hum... Faz sentido.
- Faz, faz... Só se for pro senhor! Porque meu cu, a vazão de qualquer flatulência, está entre as nádegas. O que tenho nessa região é, no máximo, puxando pra baixo, um umbigo.
- O umbigo não é necessariamente um orifício...
- Bem como as obras da copa não fazem barulho. Porque elas não tem acontecido.
- E o que é o barulho que escutamos, então?
- Acho que, talvez, as tripas da cidade tenham-se rompido novamente. Sabe como é: gases...




domingo, fevereiro 12, 2012

Os cupins alimentam-se do meu armário como se minha casa fosse um restaurante tipo buffet livre. E "livre" no sentido de que podem repetir a refeição quantas vezes quiserem, além de que podem fazê-lo sem pagar por isso. Esse drama ocorre todo ano, assim que o verão começa a se manifestar. Tenho a nítida impressão de que a detetização é feita com vinagrete e algumas especiarias, porque nunca vi cupim gostar tanto de um armário já quase totalmente descarnado - já que os cupins do ano anterior, e dos anteriores ao anterior, fizeram banquetes portentosos. Lembro-me duma oportunidade dessas, na festinha dos cupins, em que, inclusive, acabei por me apaixonar por uma cupinha. Infelizmente, não deu certo. Não que fosse um caso de verão, apenas, mas porque ela foi fazer uma boquinha na casa do vizinho e parece que lá, o veneno funciona...

Enfim, essas coisas me deixam meio triste, sabe? O verão, os cupins, um amor desfeito porque na casa do vizinho o veneno aplicado nos móveis é de verdade. Mas, além disso, me incomoda bastante o fato de que a empresa que fez a aplicação do veneno ter cobrado o olho da cara (e sabe-se lá mais que outro olho), ter "garantido" a eficácia do tratamento na madeira e que, quando vamos atrás dos sujeitos cobrando explicações do comportamento equivocado dos insetos - veja que o veneno está funcionando, são esses malditos mascadores de pinho que, de fanfarrões, se fazem de desentendidos e teimam em não morrer -, eles eximem-se de qualquer responsabilidade.






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