Na maioria das fotos
em que estou presente, apareço fazendo caras e bocas. Na verdade nem
tantas “caras e bocas” assim, visto que a minha versatilidade
para caretas é bem pequena. De qualquer maneira, é mais fácil que
eu esteja ou contorcendo a cara, ou sério, ou fugindo da câmera, do
que sorrindo. Mas e qual é o porquê disso? E essa pergunta já me
foi endereçada, ao que, se me tivesse brotado no momento, a presença de
espírito necessária para fazê-lo, responderia assim: “vai tomar
no cu, não te interessa, a cara é minha e faço dela o que bem
entender, seu merda!”
Entretanto, a resposta
mais sincera seria a seguinte: eu acredito que o sorriso, quando
verdadeiro e representando certo “estado de espírito”, deva ser
espontâneo. Eu não gosto de tirar fotos e não me sinto à vontade
naquele breve intervalo de tempo entre o posicionar-se e o esperar
pelo click do fotógrafo. Quando estou nesta situação de
desagradável desconforto, é passível de entendimento que minha
espontaneidade demonstrasse antes uma expressão de puro
descontentamento do que um sorriso sincero. Porém, ao mesmo tempo,
se me dispus a posar ao lado de outrem, “
fi-lo porque qui-lo” e
transparecer uma expressão de ódio talvez depusesse contrariamente
ao apreço que sinto por quem está na imagem comigo.
Não sei se existe um
estudo histórico ou etimológico da careta, mas a mim parece ser
muito adequado, em diversos momentos de constrangimento,
manifestar-se através de caretas com o fim de fazer com que os
outros riam (e com isso “quebrar o gelo” de determinada situação)
ou, simplesmente, demonstrar uma expressão facial absolutamente
artificial, conquanto aconchegante e descontraída. Claro que a
careta pode ser utilizada como afronta ou até mesmo para despertar o
medo em alguém, além do uso muito corrente de chamar de “careta”
aquele que não consome drogas de nenhum tipo, mas para tais casos a
minha explicação aqui não se enquadra já que esses não seriam,
necessariamente, momentos de constrangimento.
Portanto, para
finalizar: a careta é uma ferramenta muito mais eficiente do que o
sorriso amarelo, visto que ela é uma alteração da expressão
facial (tais como o sorriso ou o emburramento os são) mas é uma
maneira de compatibilizar a minha absoluta alegria em estar ao lado
da(s) pessoa(s) que estão na foto, ainda que eu esteja numa espiral desnorteada de impostura atabalhoada, causada pela minha evidente incompatibilidade mundana de posicionar-me frente às lentes.