Na década de 80, foi veiculado, em canais abertos de TV, uma propaganda de cigarros que usava, como ícone, um então jogador da seleção brasileira de futebol: o Gérson. Versava, essa propaganda, sobre que o certo é o sujeito sempre tirar vantagem, em qualquer situação em que estivesse. Passados os anos, isso ficou conhecido como “a lei de Gérson”.
Essa ideia, a de que é correto sempre “se dar bem”, tem muito a ver com o caráter do político brasileiro e vai de encontro a questões elementares de ética. Se a tendência é sempre tirar proveito da situação para benefício próprio, como pode o indivíduo representar alguma parcela da população, por exemplo? A grande questão é que, por mais que condenemos esse tipo de atitude, quando ela está sendo personificada através de alguma figura pública, temos uma forte tendência a fazer “vista grossa” quando os dilemas morais corriqueiros se apresentam em forma do troco do pão que foi dado a mais (e o embolsamos); do “gato” na luz, na TV a cabo, na água; na fila do banco que furamos na maior “cara lavada”.
Talvez a nossa indignação, frente às atitudes anti-éticas de toda a classe política, seja velada, porque sabemos que, no fundo, o político é antes um cidadão com os mesmos princípios que a maioria de nós. A grande diferença é que ele está mais exposto. E muito antes de pôr milhoês de dólares na cueca, ele afanava algumas inocentes balinhas na fila do caixa do supermercado.
Com certeza, a máquina pública facilita a vida do malandro. Mas o malandro só se torna um político corrupto porque, quando era só malandro, os preceitos éticos jamais lhe foram suficientes para moldar seu caráter.