O tempo havia fechado, raios e trovões anunciavam uma tempestade logo ali à frente. Ela estava uma arara com o cara - não sem razão, tampouco coberta por essa. A coisa ia ser feia! Mas daí, um girassol: há rosas, margaridas, magnólias, tulipas, violetas, crisântemos, jasmins, copos-de-leite, uma variedade infindável de caules e pétalas, olores e cores. Mas, um girassol!
O girassol não é exatamente a finesse da flora: tem aquelas pétalas amarelas, mas são pequenas, não são proporcionais ao miolo; tem aquele caule longo como pernas de um flamingo verde e hirsuto; tem aroma de nada memorável e finalmente, tem suas sementes inexplicavelmente pretas-e-brancas – as quais algumas aves adoram, dentre elas, as araras...
Não foi o gesto de presentear em si ou a surpresa daquele galanteio pós-moderno: foi o inusitado ato de estender-lhe o braço segurando aquele apetrecho biologicamente peculiar e bastante interessante. E era inusitado, se era. Foi ao acaso, o girassol. Foi impensado, o girassol. Era totalmente espontâneo aquele girassol. Era mesmo! Era. Era mesmo... Era mesmo?
Um girassol não se cata assim, como se cata o vento ou um sonho bom numa noite de verão ameno. E aquela placidez quase cômica com que o olho dessa flor acompanha o sol tem um significado meio místico, meio comportamental também: a passagem do tempo, a temperança e a paciência. Num ciclo eterno enquanto dura, o girassol está ali, observando o mundo a sua volta e saudando a todos ao inclinar-se com a brisa.
O que quer que tenha acontecido, a mágoa maior que ele tenha-lha causado... Fora suplantado por um garboso girassol.