Quando a maioria das coisas que me passam pela cabeça referem-se a mim mesmo, é sinal de que preciso de um tempo de reclusão para pensar mais nas coisas que realmente podem fazer diferença na minha vida e na maneira como eu lido com tudo. E em primeiro momento, essa observação pode parecer meio estranha, já que o ideal seria eu me socializar mais para ter o que falar sobre os outros, mas aí é que a minha interpretação ganha corpo: a criatividade que me era natural e que permitia que eu visse tudo de uma maneira clara - pelo menos pra mim, tudo era muito claro - sumiu aos poucos e há tempos não dá mostras de que aparecerá assim, de uma hora para a outra.
Por vezes, a reclusão, aquela em que se mergulha de cabeça em boas leituras, se vê bons filmes - e, sinal dos tempos, seriados enlatados americanos -, se escuta cds que há muito estavam juntando pó na estante, esse comportamento, às vezes, isso nos faz recobrar a consciência dos outros, apesar de ser um exercício de caráter subjetivo. Pra mim, quando me decepciono com algumas coisas, quando noto que comecei a me preocupar muito com o meu umbigo e com ele sendo o centro do universo, quando já não existe razão alguma para qualquer atividade, esses momentos no papel de anacoreta prestam um favor ao potencial que algumas pessoas dizem que eu tenho - normalmente eu discordo disso, mas faz parte do amadurecimento saber reconhecer o que se tem de positivo (e ainda acho isso difícil, prova de que de fato ainda sou muito imaturo).
Sinceramente, acho que meus esforços para manter o foco nas promessas que eu havia feito, nos objetivos a ser atingidos durante o ano e toda essa babaquice, com o passar do tempo tornar-se-ão um motivo de frustração, antes de explicação para uma vida feliz. Isso porque apesar de concordar com a necessidade de se adaptar a realidade em que vivemos, eu não consigo aceitar que este ideal de vida que me é apresentado - e esfregado na cara como o algorítimo que resultará na plenitude do indivíduo - seja o que eu preciso. Mas e eu tentei? Alguma vez eu realmente me engajei na batalha da minha própria existência?
Enfim, o que me irrita, no fundo, é que o estopim dessa minha última crise, pra variar, é o fator humano mais corriqueiro e óbvio que sempre existiu e que possivelmente perdurará enquanto nós estivermos aqui, sugando e destruindo este planetinha: um coração partido, dor de cotovelo, ou seja lá qual outra alcunha pode ser determinada para a miséria do grande idiota, que nesse caso, sou eu!
A vida não é perfeita e ninguém é totalmente feliz, mas não há escolha: é a única existência que temos e há que se lidar com isso.