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segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Era uma vez, no mundo do Faz de Conta...

Faz de conta que se vive em um país em que haja estados e cidades, e que isso tudo seja coordenado por poderes individuais mas harmônicos entre si e que a eleição dos representantes desses poderes é através de um outro faz de conta, o sufrágio universal. Daí, faz de conta que, ciente disso, o cidadão sabe dos seus direitos e deveres e tenta levar uma vida mais ou menos dentro da conjuntura social em que está inserido, dessa forma sendo exemplar.

Faz de conta que o tempo vai passando, e tudo vai mudando, e os ideais de vida se resumem a: bens materiais. E para ter qualquer coisa, faz de conta que se precise ganhar dinheiro, e disso depende um emprego e para isso é necessário formação. Novamente, faz de conta que se sabe sempre o que se quer e é muito fácil apenas traçar os planos e seguí-los à risca, pois não há encruzilhadas no caminho. Então, se consegue a formação e o emprego, e faz de conta que, com isso, se é um sujeito louvável e um excelente partido, e daí se arranja um relacionamento estável e maduro, com alguém que siga os mesmos preceitos. Faz de conta que tendo uma casa, um carro, comida, televisão de plasma, microsystem, facas Ginsu, e por ai afora, se é feliz.

Faz de conta, que o faz de conta começa a ficar meio sem graça, porque se conclui que não é assim tão óbvio, tão perfeito, tão diretamente simples, mas também nada é tão importante ou tão relevante a ponto de se deflagrar uma guerra por causa do maldito copo d'água, quando a última gota o fez transbordar. Faz de conta que a cada dia que passa, mais os outroras "ideais" esmaecem e os valores que cabiam perfeitos agora, já são bastante questionáveis. A companhia para toda a vida também duvida que aquele relacionamento seja mesmo o ideal. Faz de conta que, num belo dia, a vontade de continuar na cama é maior do que o desafio de enfrentar um dia novo, já que de novo ele terá nada, e de fato não haverá muitos desafios.

Então, o sujeito fica na cama e faz de conta que está doente. Faz de conta que, para não perder o emprego e consequentemente, o dinheiro - que é o pilar de todo o faz de conta - ele precise comprovar que de fato estava morrendo e para isso, ele precisa ir ao médico. Chegando lá, faz de conta que se é paciente e se aguarda, uma, duas horas, para ser atendido. Faz de conta que o médico atende o paciente e que após a história de faz de conta da doença, o doutor faz de conta que examina, faz de conta que interpreta e faz de conta que conclui que o faz de conta da doença era real. Daí, surge um atestado real, mas de faz de conta. No dia seguinte, isso é apresentado para a empresa, que faz de conta acreditar naquilo ali e o faz de conta prossegue.

E assim a vida vai passando, até que o faz de conta finalmente acaba, talvez com uma breve reflexão: "Será que se fosse de verdade, seríamos felizes para sempre?"

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