Semana passada fui assaltado. Novamente. À mão armada. E, desta vez, na seqüência da operação, houve o tal do "seqüestro relâmpago". Daí que me levaram a mochila com tudo dentro: os documentos, dinheiro, uma camisa de flanela roxa, um mp3 player, uma revista História Viva, de abril de 2005... Essa última, quando da notificação na DP, gerou certa controvérsia. Perguntou o escrivão: "Mas, é didática?", no que eu respondi que "não, é de ler mesmo... Mas era minha! Não interessa!"
Na verdade, o clima estava meio tenso, porque o escrivão quis assim. Me senti mais lesado com o atendimento prestado pelas "autoridades" do que pela ação dos bandidos em si. Eles até que foram legais, quando deram 10 pilas para que eu e meu colega de seqüestro pegássemos um ônibus... Tá certo que estava chovendo e que eles levaram nossos tênis e todo o resto, mas tratava-se de um seqüestro, por Deus! Se eles fossem bonzinhos demais, poderiam acarretar até uma síndrome de Estocolmo, ou algo do gênero!...
De mais a mais, algumas notas interessantes devem ser feitas: fazia tempo que eu não escutava, ou melhor, não prestava a devida atenção às conversas das pessoas dentro dos ônibus. Como estou, mais uma vez, sem música (o mp3 player que se foi...), levo alguma coisa pra ler durante as viagens de ônibus entre casa/empresa, empresa/casa. Invariavelmente, perco a concentração por causa de uma conversa que pesco, ou alguma figura peculiar, dentro dessa constelação de passageiros. E, puxa! Como têm figura estranha neste mundo!
Noutro dia, foi um sujeito que se sentou num assento no meio do ônibus, do lado contrário ao motorista. Ele estava segurando um paletó, possivelmente saído da lavanderia, pois estava com um plástico branco em volta. Duas paradas além, entra uma morena, muito bonita, e senta dois bancos atrás do tiozão do paletó. Ele, como é daqueles sujeitos que agarra com todas as suas dez mãos uma oportunidade quando essa se apresenta, lentanta-se e senta no banco logo a frente da morena. Uau! Quanta desenvoltura! Ele ainda está olhando pra frente, mas já transpira seu "sex-appeal" de uma maneira irresistível. Se continuar assim, acho que
eu vou ter que ir lá...
Ele faz uma observação importante: "Acho, que faltou luz!". Na rua, o breu é absoluto e, visto que estamos em uma cidade que possui, ainda que lamentavelmente mau administrada, rede elétrica, o comentário é bastante pertinente, ainda que não houvesse outra alternativa. A morena gata exprime um sorriso e acena com a cabeça, concordando com o óbvio ululante. Nesse ínterim, o tiozão transmuta-se em pombo, estufando o peito. Conversa vai, conversa vai... A conversa não vem porque somente o tiozão está animado e falante. A menina... Bom, a menina é uma ótima ouvinte!
O tiozão continua, em ritmo frenético, com peito estufado, segurando o apoio do banco da frente com a mão firme, apertada (ele está nervoso, realmente!), e falando, falando... Ela, sorri. Canto da boca, tão somente. E não se mexe. Nem no cabelo.