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segunda-feira, janeiro 15, 2007
O Zé Povinho

Culpar o marginal. É o que eu faço em uma situação como um assalto, por exemplo. E não é para fugir do clichê: simplesmente é o que me passa pela cabeça nessa hora. Existem, claro, "N" motivos para uma pessoa chegar ao extremo de violência e cair na bandidagem, mas quando a violência lhe violenta, você só pensa em "querer ver morto aquele cretino"...

Momentos depois, com a cabeça mais fria, você pode refletir em como a coisa chegou a esse ponto. Daí sim, você começa a pôr a culpa no governo. E, afinal, é única e exclusivamente responsabilidade do governo as questões de segurança pública, saúde, emprego, estudo, etc...

Tudo verdade, não fosse o fato da gente toda ter se acomodado com a violência e com a marginalização de um grupo inteiro da sociedade. E não se faz nada, porque não se sabe o que fazer. "Eu votei no político em que acreditava, mas ele se mostrou tão corrupto quanto todos os outros". E assim por diante.

A responsabilidade do cidadão, em outros termos, o que se chama de cidadania, está resumida a votar a cada dois anos: presidente, deputados, senadores, governadores, vereadores, prefeitos, enfim, todos das classes do legislativo e executivo são escolhidos por nós e só a isso se resume o cidadão, não porque queiramos isso, mas porque é o que sabemos fazer. E ninguém nos explica mais nada, também. A questão da "fiscalização" vinda do povo não existe. Como eu, um simples "Zé Ninguém", posso intervir na esfera política? Como eu posso fazer minha voz ser ouvida se a politicagem não escuta sequer seus próprios semelhantes - os outros políticos?

A gente vê as cúpulas do senado e congresso batalhando duro por um aumento de 91% dos próprios salários, - eles, que já recebem cerca de R$50.000,00 todos os meses, devidos aos demais benefícios da classe - enquanto a população morre nas portas dos hospitais, ou entra em desespero por causa do desemprego. E só não digo que "morremos de fome" porque, felizmente, o governo federal tem oferecido uma esmola qualquer - nomeada como "Bolsa Isso" ou "Bolsa Aquilo" - e assim as pessoas mantém a barriga cheia, conquanto sua dignidade esteja em frangalhos.

Nesse ínterim, eu continuo culpando o marginal: não tenho culpa de ele não ter nascido em berço de ouro, eu também não nasci e não parti para a agressão mesmo assim. Entretanto, pensando no clichê da política e nas possibilidades de mudanças inócuas que são táteis e inerentes a população, é possível entender o que é o desespero. E se isso não basta, pelo menos revolta. E em algum momento, em algum lugar, há de surgir um cidadão de bem com um pavio suficientemente curto, que não agüente mais ficar a mercê da marginalização e da politicagem. Se isso acontecer, uma guerra civíl pode salvar nossas almas... Ou condená-las de uma vez por todas!

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