-É amigo... Isso é o desemprego!
-Pois, pensei que fosse um bar...
-Ora, homem! Tu me entendeste. Falo da minha situação, um representante da classe média assalariada.
-Pois, sim!
-Claro! Corro atrás da máquina pelos que já não podem mais correr - e são tantos os esquecidos da nossa Nação...
-Pois, sim!
-Sim, claro que sim! Porque quem está lá em cima, subjuga os de baixo, mas são justamente aqueles que bebem vinho do nosso suor!
-Por isso eu bebo cachaça...
-Mas, homem! Isso é metonímia, uma força de expressão, o vulgo dito popular, a sabedoria do povo!
-Pois, sim!
-Quer saber? Chega de branquinha por hoje. Tu já bebeste demais, não falas coisa com coisa. Depois eu que sou louco...
-Pois, não! Pois, sim!
Nisso, deu de ombros. Pagou a conta no caixa - contando os trocados que lhe restavam nos diversos bolsos - e saíram, abraçados, apoiando-se um no outro: ele e seu amigo imaginário.